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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fernando Pessoa volta ao domínio público


Obra do escritor volta a cair no domínio público, depois da sua reprivatização, em 1997, pela Assírio e Alvim. Novas edições já estão previstas.
70 anos após a sua morte, Fernando Pessoa pode ser publicado por qualquer editora. O fim dos direitos de publicação, detidos desde 1997 pela Assírio e Alvim, já começou a mexer no mercado livreiro.
A Relógio d’Água já declarou à imprensa a intenção de voltar a editor obras do autor da "Mensagem". Francisco Vale afirmou que pretende retomar a edição do "Livro do Desassossego" – organizado por Teresa Sobral Cunha –, que ficou a meio devido à reprivatização, em 1997, quando a Assírio e Alvim comprou os direitos de autor da obra completa de Pessoa, tendo saído apenas o primeiro volume.
É a segunda vez que a obra de Pessoa cai no domínio público. A primeira ocorreu em 1985, por ocasião dos 50 anos da morte do escritor, tendo na altura a Ática perdido os direitos exclusivos de lançar a sua obra. Nesse ano, e nos seguintes, o mercado livreiro assiste a uma "explosão" de livros do poeta-plural, com chancela de casas editoriais como a Europa-América, a Lello e a Presença. Uns livros vieram trazer uma nova interpretação e dimensão da obra do escritor, outros nada acrescentaram às edições da Ática.
Editoras anunciam lançamentos
Em 1997, e com base numa directiva da União Europeia que fixava em 70 anos após a morte o período de vigência dos direitos de autor, a Assírio e Alvim comprou aos herdeiros do poeta os direitos de edição da sua obra. A medida criou polémica junto de outros editores, que ficaram sem poder vender um dos autores mais cotados do mercado livreiro nacional e internacional.
A Assírio prometeu edições cuidadas da obra de Fernando Pessoa, com a saída de três a quatro livros por ano. Ao princípio cumpriu, mas nos últimos anos a dinâmica editorial começou a baixar.
Agora, com a queda da obra de Pessoa no domínio público, estão previstos várias edições da obra do poeta que foi vários. Segundo o "Público", a Aletheia, nova editora propriedade de Zita Seabra, promete lançar uma edição crítica da "Mensagem". A Relógio D'Água retomará as edições "congeladas" em 1997. O Círculo de Leitores, em conjunto com a Assírio e Alvim, está a planear a edição de uma antologia do poeta em sete volumes.
Quanto à Assírio, continuará a edição da obra do poeta: serão lançados, no próximo mês, três volumes com a poesia ortónima. Agora sem direito à exclusividade.
Duarte Sousadias

Acaso - Álvaro de Campos

No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido,
e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até semcalhar, Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira, Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo,
e isto é o mesmo também afinal.

Fernando Pessoa - Livro do desassossego


É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver.Só o Tédio, que é um afastamento, e a Arte, que é um desdém, douram de uma semelhança de contentamento a nossa.Fogos-fátuos que a nossa podridão geral, são ao menos luz nas nossas trevas.Só a infelicidade elementar e o tédio puro das infelicidades contínuas, é heráldico como o são descendentes de heróis longínquos.Sou um poço de gestos que nem em mim se esboçaram todos, de palavras que nem pensei pondo curvas nos meus lábios, de sonhos que me esqueci de sonhar até ao fim.Sou ruínas de edifícios que nunca foram mais do que essas ruínas, que alguém se fartou, em meio de construí-las, de pensar em que construía.Não nos esqueçamos de odiar os que gozam porque gozam, de desprezar os que são alegres, porque não soubemos ser, nós, alegres como eles… Esse sonho falso, esse ódio fraco não é senão o pedestal tosco e sujo da terra em que se finca e sobre o qual, altiva e única, a estátua do nosso Tédio se ergue, escuro vulto cuja face um sorriso impenetrável nimba vagamente de segredo.Benditos os que não confiam a vida a ninguém.


Livro do desassossego




Cronologia


1888: Em Junho nasce Fernando António Nogueira Pessoa; em Julho ocorre seu baptismo.
1893: Em Janeiro nasce seu irmão Jorge. O pai morre de tuberculose em 13 de Julho. A família é obrigada a leiloar parte de seus bens.
1894: No mês de Janeiro, seu irmão Jorge morre. Cria seu primeiro heterônimo. João Miguel Rosa é nomeado cônsul interino em Durban.
1895: Escreve o seu primeiro poema em Julho. A mãe casa com o comandante João Miguel Rosa em 30 de Dezembro.
1896: Parte com a mãe e um tio-avô para Durban no início de Janeiro. Nasce Henriqueta Madalena, irmã do poeta.
1897: Faz o curso primário em West Street. No mesmo instituto, faz a primeira comunhão.
1898: Nasce, em Outubro, sua segunda irmã, Madalena Henriqueta.
1899: Ingressa na Durban High School. Cria o pseudónimo Alexander Search.
1900: Em Janeiro, nasce o 3ª filho do casal, Luís Miguel. Em Junho, Pessoa passa para a Form III e é premiado em Francês
1901: É aprovado no seu primeiro exame em Junho. Escreve os primeiros poemas em inglês. Parte com a família para Portugal em Agosto. Falece Madalena Henriqueta.
1902: A família retorna à Lisboa em Junho. Nascimento do irmão João Rosa. Em Setembro, Pessoa volta para a África. Tenta escrever romances em inglês.
1903: Submete-se ao exame de admissão à Universidade do Cabo, tirando a melhor nota no ensaio de estilo inglês.
1904: Termina seus estudos na África do Sul.
1905: Vai de vez para Lisboa, onde passa a viver com uma tia. Continua a escrever poemas em inglês.
1906: Matricula-se no Curso Superior de Letras. A mãe e o padrasto retornam à Lisboa e Pessoa volta a morar com eles.
1907: A família retorna mais uma vez a Durban. Pessoa passa a morar com a avó. Desiste do Curso de Letras. Em Agosto a avó morre.
1908: Começa a trabalhar como correspondente estrangeiro em escritórios comerciais.
1910: Escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.
1912: Pessoa estréia como crítico literário, provocando polêmicas junto à intelectualidade portuguesa.
1913: Intensa produção literária. Escreve O Marinheiro.
1914: Cria os heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Escreve os poemas de O Guardador de Rebanhos e também Livro do Desassossego.
1915: Sai em março o primeiro número de Orpheu. Pessoa “mata” Alberto Caeiro.
1916: Seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.
1918: Pessoa publica poemas em inglês, resenhados com destaque no “Times”.
1920: Conhece Ophélia Queiroz. Sua mãe e seus irmãos voltam para Portugal. Em outubro, atravessa uma grande depressão, que o leva a pensar em internar-se numa casa de saúde. Rompe com Ophélia.
1921: Funda a editora Olisipo, onde publica poemas em inglês.
1924: Aparece a revista “Atena”, dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.
1925: Morre em Lisboa a mãe do poeta, em 17 de Março.
1926: Dirige com seu cunhado a “Revista de Comércio e Contabilidade”. Requer patente de uma invenção sua.
1927: Passa a colaborar com a revista “Presença”.
1929: Volta a se relacionar com Ophélia.
1931: Rompe novamente com Ophélia.
1934: Publica Mensagem.
1935: Em 29 de Novembro, é internado com o diagnóstico de cólica hepática. Morre no dia 30.




"Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino."










terça-feira, 8 de julho de 2008

Com licença poética - Adélia Prado



Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim,

ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos - dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade da alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

convite aos devaneios literários



O espaço aqui é aberto à instrospecção, aos valores da alma, aos sentimentos humanos. Aqui é campo livre ao devaneio, às utopias que amadurece idéias, que constroem sonhos, que concretizam a reflexão. Aqui é um convite livre ao deleite à busca, ao encontro do próprio eu, que se constrói através das utopias de matizes oníricas, de desencontros!

Arte é criação, é a construção do ideal, é a manifestação do belo,
a "realização" das utopias.
Veja a capacidade de criação deste video.