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terça-feira, 8 de julho de 2008

Com licença poética - Adélia Prado



Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim,

ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos - dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade da alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

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